Entrevista/depoimento
dado ao Blogue da Associação Cultural Recreativa de Vila Mendo – Vila Fernando -
Guarda
http://acrvilamendo.blogspot.pt/
O
texto que se segue não é com certeza uma entrevista, é uma escrita corrida,
escrevendo de memória, sem querer ser rigoroso.
Nasci
em Vila Nova de Tazem, Concelho de Gouveia, em 1947
Estudei
na Escola Industrial de Gouveia, na Escola Industrial Infante D. Henrique no
Porto e no Instituto Industrial do Porto.
Fiz
a Guerra Colonial em Moçambique
Entrei
para a Renault da Guarda em Fevereiro de 1974, transitando depois para a
Reicab/Delphi até atingir a idade da reforma.
1 - Como analisa a situação da Guarda
no presente (e em comparação com os últimos 30 anos) nos aspectos económico,
social e político?
A
Guarda, cidade, era até aos anos 60/70 uma cidade no alto do monte, muito
concentrada no seu centro histórico.
Era
uma cidade de muitos serviços e alguma indústria, sobretudo nos têxteis. A
instalação da Renault e da Femsa na
Guarda t,razendo investimento importante e novos quadros técnicos, fez com qua
a Guarda desse o seu primeiro grande salto.
No
pós 25 de Abril a Guarda começa a modernizar-se, nem sempre bem, pois cresce de
forma desordenada, sem um plano director claro, que só mais tarde veio a ser
feito e por imposição do governo central.
A
indústria automóvel cresce de forma exponencial e as fábricas da Guarda
acompanham o crescimento, que infelizmente não é acompanhado pelos investidores
locais, pois não apareceram indústrias complementares de apoio à indústria automóvel,
e era preciso comprar fora sobretudo a metalurgia.
Nos
anos 80 uma parte importante do tecido industrial da Guarda, que eram os
texteis, entra em declínio e não sabendo modernizar-se, nem ser competitivo,
vai encerrando aos poucos.
A
indústria automóvel, e outras nomeadamente a Gelgurt, vão assegurando e
aumentando o número de empregos.
Acompanhando este ritmo, o sector de serviços
instala-se. Funcionários públicos e privados. Os bancos, o hospital, a câmara,
a segurança social entre outros dão vida à cidade.
Até
às crises que se foram sucedendo durante este século XXI
E
como vão as aldeias e a sua população? Nos anos 70,Sem estradas alcatroadas, sem
água, sem esgotos e muitas sem electicidade, vão conhecer uma grande melhoria
nas suas condições de vida. É a grande revolução rural. Mas com a oferta de
emprego na cidade as populações deixam as aldeias e instalam-se na cidade e aí
começa o despovoamento.
Actualmente
a cidade continua a viver as consequências das indústrias de mão-de-obra barata
e intensiva, que se deslocalizaram para países mais baratos. O que restou está
com pujança suficiente para se manter e quase se pode afirmar que estamos ao
nível dos anos 80.
A
envelhecer e sem a criação de novos empregos, a PLIE continua estagnada, a
Guarda perde habitantes por duas vias. Pela via da morte dos mais velhos e pela
saída dos mais novos, quer para o litoral quer, para o estrangeiro.
Politicamente
a Guarda pode ter sofrido com o facto de ter um partido dominante e uma
oposição quase sempre distante e fraca.
Há
quatro anos, com a falta de liderança, o Partido Socialista perdeu o poder para
o Partido Social Democrata e pensava-se que a Guarda poderia ter um novo folgo
de progresso.
No
entanto, o novo Presidente, sem uma estratégia clara de desenvolvimento, vai-se
gastando em pequenas obras de arranjos pontuais e em festas para as multidões.
E
é sobretudo no Centro Histórico que se verifica a falta de estratégia, pois o
abandono é cada vez maior e a degradação aumenta.
As
aldeias, mesmo com a melhoria substancial das condições de vida, continua a
despovoar-se e neste momento a Guarda, cidade, só está a ganhar população à
custa das aldeias do concelho, quando antes ganhava o concelho à custa dos
concelhos vizinhos.
2 - Que projecto(s) são
indispensáveis para que a Guarda seja uma cidade atractiva, pujante, liderante?
Esta
é uma pergunta difícil e não há respostas óbvias.
Alindar
a cidade é importante mas é insuficiente. As festas são importantes, no entanto
são festas que basicamente atraem as populações do concelho e muito poucos de
fora.
O
emprego na indústria ainda é insuficiente, mas a Guarda não tem mão-de-obra
qualificada para responder às necessidades.
O
turismo é de passagem e não temos programas que possam atrair o turista por
mais de um dia.
A
PLIE está adiada, como foi dito, e a futura plataforma ferroviária será mais um
mito. Os comboios de mercadorias passarão pela Guarda porque aqui não se
fabrica nada que possa ser carregado e descarregado dos contentores ou vagões.
A
dita produção endógena não sustenta o concelho e é visível na Feira Farta a boa
vontade das Juntas de Freguesia para apresentarem os seus produtos e que a
maior parte deles apenas são feitos para a ocasião.
Na
minha opinião o motor deveria centrar-se no Instituto Politécnico, com a
investigação, com cursos diferenciadores, com ligações à indústria portuguesa e
não só à Guarda.
Para
complementar o investimento nas indústrias culturais e criativas poderia ser
outra saída, agora muito apoiadas pela Europa.
A
Comunidade Intermunicipal ainda não encontrou o seu lugar e é uma mera
plataforma para concorrerem aos recursos da Comunidade Europeia com disputas
político-partidárias apenas pelo poder.
Se
tudo continuas assim, o interior deixa de ter futuro e não chega pedir de
joelhos ao poder central que atribua umas migalhas ao interior.
3 - Estamos a entrar (ou já entrámos)
em campanha eleitoral. Como vê toda esta azáfama que começa a marcar o
dia-a-dia da nossa cidade?
A
azáfama eleitoral começa sempre muitos meses antes da pré-campanha para quem
está no poder. Os meios colocados no terreno são imensos. Desde a TV corporate
em todos os locais camarários, até às redes socias, a campanha começa muito
antes.
Quem
está na oposição normalmente acorda tarde e anda atrás dos acontecimentos e é
por isso que quase nada se vê, tirando os placards espalhados pelas rotundas.
Não
há debates, não há apresentação de programas.
Só
a feitura das listas animou a cidade, mais pela curiosidade de saber quem vai e
quem não foi do que por resultado de discussão pública.
A
Comunicação Social local está a passar ao lado disto pelos muitos
condicionalismos e que podem pôr em causa a sua sobrevivência.
4 - É administrador do blogue “Sol da
Guarda” (blogue bastante visitado e seguido) onde está atento à actualidade da
nossa terra. Como vê a influência da blogosfera (e das redes sociais)
comparativamente com o jornalismo “tradicional” (jornais e rádios, no caso da
Guarda)?
A
Comunicação Social da Guarda tem alguns constrangimentos, ligações familiares,
falta de anúncios, pressões de retirar apoios, há um pouco de tudo.
As
redes sociais estão muitos activas e muitas vezes pelos piores motivos.
Criam-se
blogues e páginas com perfis falsos e criam-se também exclusivamente para estas
alturas, para criticar, para elogiar e para insultar. Há um pouco de tudo. É
preciso criar muitos filtros para compreender o que nos querem dizer e quem o
diz.
Dar
a cara continua a ser muito difícil.
É
o futuro das campanhas, casa a casa, computador a computador. É por isso também
que as bases de dados de utilizadores são pagas a preço do ouro.
5 - É natural de uma comunidade rural
(Vila Nova de Tazem). Como vislumbra o futuro das comunidades rurais e do
próprio interior como tal?
A
comunidade rural onde me criei tem muitas particularidades.
Já
foi a Freguesia, agora Vila, rural mais importante do Distrito da Guarda. Agora
está a morrer, até a escola básica vai desaparecer. Já teve mais de 3 mil
residentes agora não terá mil.
Sempre
viveu do vinho, das batatas e da imigração. Para os chamados Congo Belga e
Francês, Para a Angola, Para a Venezuela e mais tarde para a França e Alemanha.
Mais recentes Estados Unidos e Suíça. E assim viveu à sombra dos imigrantes que
regressavam sempre. Agora é uma desolação de tantas casas abandonadas.
As
batatas só para consumo doméstico. O vinho está bem, quer na adega cooperativa,
quer nas quintas particulares, que produzem vinho de grande qualidade.
Ultimamente até Joe Berardo lá comprou uma vinha.
Será
o futuro?
6 - Que lhe diz Vila Mendo?
Vila
Mendo não me diz muito. Sei que pertence à Freguesia de Vila Fernando. É uma
terra onde se vai, não se passa. Fui lá algumas vezes, há uns anos, pois havia
aí uma modista de senhoras que trabalhava muito bem.
Creio
que durante o meu percurso profissional lidei com pessoas de Vila Mendo.
Sei
pelo blogue, que acompanho, que a Associação Cultural Recreativa de Vila
Mendo,
é muito dinâmica e tenta valorizar as suas gentes e a terra.
E
ainda, que tem uma fonte com água muito boa, a melhor, disseram, no blogue.
E
já está, obrigado pela oportunidade. Muito tempo de vida para o Blogue e para a
Associação.
Para
Vila Mendo que continua a sobreviver com a festa do Chichorro, apesar de fazer
muito mal.
De fato, a água de Vila Mendo é a melhor água da zona e tem uma atividade associativa interessante apesar de ser uma aldeia pequena.
ResponderEliminarVila Mendo existe, onde fica, será a quinta de Vila Fernando, ainda tem habitantes? Uma associação virtual pelos vistos tem.
ResponderEliminarCaro 1636
ResponderEliminarEstive hesitante entre mandar este comentário para o lixo e fazer publicação. Optei por esta última, para lhe dizer que "pelos vistos" a associação não é virtual. Tem actividade e vai lutando pelas pessoas da sua terra. Quanto a ser quinta de Vila Fernando até pode ser a sexta. Anexas há muitas.
A Oliveira
Ao anónimo do dia 10 de Setembro, tenho a dizer-lhe que (e para completar os seus parcos conhecimentos) Vila Mendo existe; tem poucos habitantes, infelizmente, e nao é nenhuma quinta, mas não haveria problema se o fosse.
ResponderEliminarQuanto à Associação: é real, visível e palpável. Para afirmar que é virtual, o anónimo demonstra ser ignorante (burro como se diz em Vila Mendo) por, no mínimo, não verificar o que diz, ou está a ser mal intencionado (um merdas como se lá diz também). Seja sério (difícil para quem se esconde no anonimato) e veja da actividade de Vila Mendo ( no blogue acrvilamendo.blogspot.pt pode constatar isso mesmo). Será que as Festas dos Chichorros, os Encontros Motards, as Caminhadas, os Passeios BTTs, as Exposições Fotográficas, os Vila Mendos On Tour, os Encontros Mitológicos, os Cozeres do Pão no forno comunitário, os Jantares de Natal, as edições de dois Cadernos de Memórias, a própria Festa entre outras actividades e convívios, além de a própria Associação estar aberta regularmente, tudo isto é virtual? Valho-nos Deus...
Encontros «Mitológicos»? Mau...
EliminarEncontros micológicos.
EliminarInfelizmente, cada vez mais encontramos pessoas maldosas pela frente. O anónimo de 10 de setembro - que não passa disso mesmo - talvez por falta de coragem ou até mesmo só pela questão da maldade, fez questão de fazer um comentário no mínimo ridículo, demonstrando não ter nenhum sentido de oportunidade, nem mesmo demonstrar um pouco de inteligência. Ora bem, vejamos os factos... Se refere que é uma associação virtual, a qual dispõe imensas fotografias de Vila Mendo, da aldeia em si, das pessoas, das atividades que lá são realizadas, como consegue dizer tal barbaridade?
ResponderEliminarSenhor anónimo, vá ao blog da nossa associação, e na próxima atividade que a nossa associação realizar, dê um pezinho até Vila Mendo e vai descobrir a essência da nossa terra. Certamente começará a ver Vila Mendo de uma forma diferente e quiçá, voltará lá mais vezes.
Cumprimentos,
Rodrigo Costa
Membro da direção da Associação Cultural e Recreativa de Vila Mendo
Ah, e como se diz lá na nossa terra : VIVA VILA MENDO!
ResponderEliminarAnónimo10 de setembro,16h37..
ResponderEliminarEstá convidado a aparecer em vila mendo dia 32 deste mês..
a esse anónimo fazia-lhe bem um banho no pio, no chafariz. Mas depois estragavamos a àgua.
ResponderEliminarCertamente haverá outras associações de aldeias tão pequenas em população como Vila Mendo e que fazem um trabalho ainda maior e mais meritório que esta. Só gostava era que me dissessem onde até porque teríamos interesse em reunir e falar com eles. A atividade da Associação de Vila Mendo existe ao longo de todo o ano e abarca cerca de 2.000 pessoas reais em cada exercício. Virtuais são algumas pessoas que não têm coragem para dar a cara.
ResponderEliminarAlgumas pessoas de vila fernando não conseguem assimilar o fato de Vila Mendo fazer coisas, ter dinâmica. A inveja é tramada.
ResponderEliminarO que é um anónimo de 10 de Setembro? Isso mesmo, nada. É um comentário perdido num blog e uma personalidade virtual.
ResponderEliminarComo o comentário do Sr.ignorante fez com que nós as pessoas de Vila Mendo nos exalta-se-mos na defesa desta nossa Terra. Isto demonstra como o principal de um local seja pequeno ou grande não é só os edifícios ou os monumentos mas sim as suas gentes e VILA MENDO tem na sua essência grandes pessoas que defendem aquilo que é seu.
ResponderEliminarVILA MENDO nunca será pequeno enquanto houver quem goste de lá ir e a defenda desta maneira pura e sinsera.
António Terras da Fonte
Apraz-me bastante ver que a nossa Associação é motivo de desabafos que relatam, sem querer, o que lhes vai alma...( inveja )
ResponderEliminarÉ mais fácil criticar, do que fazer.
O medo de arriscar é transversal a todos.
A nossa Associação faz, aprende, evolui, divulga ( e bem que até aos anónimos chega) o seu nome.
Humildade e respeito são alguns dos valores que em Vila Mendo persistem.
Viva Vila Mendo !
Vamos continuar o nosso bom trabalho !
Um sentido abraço,
Telmo Conde
Por aqui se vê e se explica porque é que uma Associação de uma aldeia tão pequena funciona: união e um objetivo comum.
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