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As
fotografias apresentam o que eu irei ver ao passear na Rua do Comércio, durante
uma tarde de Primavera, depois de colocadas as placas de policarbonato (Que são
assim umas placas de plástico transparentes e que às vezes mudam de cor)
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O texto que se segue foi publicado no Jornal Terras da Beira de 24/03
No
debate de opinião sobre o projecto da cobertura para a Rua do Comércio, não
devemos cair em maniqueísmos, ou no pobre argumentário de que haverá sempre
quem goste e quem não goste, mas antes equacionar uma série de questões
abrangentes e desapaixonadas, que poderão servir de reflexão para decisões
futuras.
A
valorização visual daquele espaço urbano deverá ter um efeito atrativo,
positivo e convergente, daí que qualquer intervenção urbanística deverá ser bem
ponderada.
Será
que a cobertura que o projecto apresenta, valoriza ou desvaloriza o espaço?
Aquela
rua e toda a envolvente têm um património construído e imaterial, inserido na
malha urbana do Centro Histórico cuja leitura arquitectónica se conjuga com o
largo anterior, o da Igreja da Misericórdia e posterior, o da Sé, património
com alto valor artístico.
Quando
o transeunte faz o percurso da Rua do Comércio, fica surpreendido com o que
encontra na términus da mesma: a Catedral e o espaço envolvente. Por isso qualquer
elemento urbanístico a introduzir não poderá descaracterizar e despersonalizar
aquele núcleo urbano, nem cortar a visão da Praça.
A
cidade é uma criação do Homem e ela existe por uma necessidade histórica, representa
imagens, símbolos, onde o cidadão se reconhece como parte integrante do
ambiente urbano. Assim os elementos arquitectónicos a introduzir devem ter
ligações com os espaços circundantes numa perspetiva global daquilo que se
projecta desenvolver.
A
posição dos eixos comerciais dos centros históricos aparecem muitas vezes como
ponto de partida para incentivar políticas de desenvolvimento e de redefinição
do papel das cidades no contexto nacional, e por isso a intervenção nesta zona
poderá ser uma oportunidade um desafio para a reorientação da política de
desenvolvimento da cultura urbana, mobilizando as atenções dos poderes
instituídos.
Estes
projectos com a respectiva mobilização de recursos, são ocasião para repensar a
cidade obrigando a exercícios de imaginação com especialistas nas várias áreas
e implicam que a questão não seja abordada pontualmente, com meras composições
de colagens, mas sim procurando políticas dotadas de um significado global.
A
dinamização comercial e turística da zona está dependente daquela cobertura? Irão
por isso acorrer ao Centro Histórico mais pessoas? E este terá mais vida?
Um
dos factores que têm desmobilizado o comércio no centro histórico, tem sido o
problema da falta de estacionamento num raio mais ou menos próximo. Desde que
acabou e bem, o estacionamento na Praça Velha, têm sido feitas várias
tentativas de encontrar soluções.
Por
outro lado há que mostrar e diversificar a atividade comercial a já existente,
e outras a criar, quer a nível de a tornar mais visível e apelativa, quer a
nível de ir ao encontro das necessidades dos seus consumidores.
O
centro histórico padece também de desertificação e de movimentos humanos muito
pendulares, por isso há que tentar inverter tal tendência com políticas
diversificadas que sejam polarizadoras e catalisadoras para a população urbana
como por exemplo a instalação de serviços.
Assim
o dinamismo comercial terá de ser cruzado com uma série de outros factores, nomeadamente
os turísticos e a intervenção urbana a fazer-se, deverá ser muito discreta, não
funcionando como barreira visual ou técnica, descaracterizando todo aquele
espaço.