São Tomás de Aquino, pintura de José Risueño, Museu do Prado
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Até pode ter a ver com essa história de a justiça querer a
delação premiada. Até pode ter a ver com aqueles que se esquecem facilmente do
seu benfeitor, sobretudo quando o benfeitor está na mó de baixo. Até pode a ver
com aqueles que mudam de passeio e fazem de conta que não no enxergam. Até pode
ter a ver com a falta de memória comum à maioria dos Portugueses que só se
lembram do ontem e não do anteontem.
Para muitos deixo aqui um resumo da badana do Tratado de
Gratidão de São Tomás de Aquino em Português do Brasil e escrito por um
brasileiro.
“São Tomás, em seu Tratado de Gratidão, ensina que a
gratidão consiste uma realidade humana complexa e se compõe em três níveis”.
“O primeiro nível é o do reconhecimento do benefício
recebido. O segundo é o nível do agradecimento, que consiste em louvar e dar
graças. O terceiro é o nível mais profundo, o nível da retribuição, do vínculo,
neste nível, nos sentimos vinculados e comprometidos a retribuir o outro”.
“Ao analisarmos os três níveis de gratidão, percebemos que
cada país, fazendo uso de sua língua, agradece em um dos três níveis. No inglês
e no alemão se agradece no nível mais superficial. Quando dizemos ”thank you”
ou ”zu danken” expressamos o reconhecimento pelo favor que recebemos. Este
nível está diretamente ligado ao nosso intelectual, pois precisamos pensar e
ponderar para então reconhecer determinado feito. A falta de reconhecimento
implica na suprema ingratidão, uma vez que não houve nem mesmo o grau mais
simples da gratidão”.
“Na maior parte das outras línguas se agradece no nível
intermediário. Ao falar ”merci” em francês, ”gracias” em espanhol ou ”grazie”
em italiano, estamos dando uma graça por aquilo que recebemos e, neste sentido,
estamos sendo gratos”.
“Já a formulação portuguesa ”obrigado” é a única que
expressa o nível mais profundo de gratidão. Quando agradecemos, queremos dizer
”fico obrigado perante vós”, então estamos nos vinculando, nos comprometendo a
retribuir um favor. Percebemos aqui a singularidade e a beleza do agradecimento
de nossa língua. Uma palavra especial que muitas vezes usamos no dia a dia sem
valorizarmos seu significado e o compromisso que ela carrega. Possamos, a
partir de hoje, usar mais conscientemente o
nosso ”muito obrigado”.
GERSON SIMÕES MONTEIRO
Presidente da Rádio Rio de Janeiro
Acho que este discurso é do Professor Doutor Sampaio da Nóvoa... já o ouvi proferi-lo...e é inesquecível, de facto.
ResponderEliminarExatamente. Prof António Sampaio da Nóvoa. O texto acima deveria ter vindo com crédito.
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