Ontem e hoje centenas de milhares de Portugueses não se deslocaram aos Hospitais e Centros de Saúde para as consultas a que tinham direito.
Fizeram-no para defender o Serviço Nacional de Saúde em risco de desmembramento.
Não fizeram manifestações de rua para televisão ver. Ficaram em suas casas, em silêncio sem protesto.
Por quanto mais tempo não se sabe bem
É preciso viver por dentro o flagelo a que chegou o SNS para se poder dar uma opinião fundamentada.
ResponderEliminarA "empresarialização" dos hospitais públicos permitiu, entre outras perversidades, a contratação de profissionais pagos à hora ou à peça.
Daí ao nascimento de empresas "negreiras" que colocam a granel médicos, enfermeiros e outros profissionais a vender actos técnicos nos hospitais, foi um passo.
Este método atraiu inevitavelmente uma chusma de oportunistas, mercenários e incompetentes que tem feito baixar imenso o nível de prestação de cuidados.
O conceito de "serviço clínico", articulado e coeso, com reuniões periódicas, revisão de protocolos, troca de informações e formação dos mais novos, tem vindo a perder-se.
O acesso à carreira foi congelado, os quadros de pessoal não se renovem e os mais velhos vão-se reformando.
A sua substituição faz-se, em muitos casos, por páraquedistas que chegam de manhã, vendem o serviço e abalam à noite com a carteira recheada.
Além do mais isto é catastrófico para a relação médico/doente.
Se se pensar bem, muitas pessoas têm uma grande desconfiança relativamente à "classe médica" mas confiam muito no "seu" médico. Parece um paradoxo.
Abstenho-me de relatar algumas das situações protagonizadas por alguns mercenários contratados à hora por serem demasiado chocantes.
Quanto à greve, por muito dolorosa que seja, teve o mérito de pôr o país todo a debater o SNS. E talvez de obrigar o ministro a discutir a saúde que se quer para este país (esperemos que sim).
O SNS, enquanto conquista do povo português, permite hoje (ainda, apesar de tudo) que qualquer português tenha acesso ao seu médico, ao seu enfermeiro, ao seu tratamento, independentemente da sua condição. Critique-se o SNS mas não se desvalorize a sua existência.
Não há hoje a mortandade infantil sazonal de há 50 anos, não há já a mortalidade peri e neo natal de há 50 anos. Não há enfermarias com 20 camas, ratos a passear nas enfermarias, cadáveres e moribundos a coabitar com doentes, como há 50 anos.
Não há epidemias de tuberculose ou febre tifóide que dizimavam tudo à sua volta.
Não há hospitais sem profissionais em que a medicina e a enfermagem eram substituídas apenas pela caridade.
Não há especialistas empíricos ou enfermeiros analfabetos.
Esta posição (e esta manifestação) dos médicos foi pelo SNS, sim. Pela dignidade de quem trata e também de quem é tratado.
António Matos Godinho
Muito bom este texto.
EliminarParabéns ao Autor.
Muitos Parabéns ao autor... Fico é com a impressão que no final de tudo fica tudo como está e nada muda...
ResponderEliminarNada muda, continuam a ganhar milhares de euros por mês e a trabalharem meia duzia de horas por dia. Enfim, uns pobres coitados...
Sem querer ser incorrecto, julgo que está a falar de uma realidade que não conhece.
EliminarEm Portugal há umas boas dezenas de milhares de médicos.
Uns trabalham exclusivamente para o sector público, outros só para o privado e outros acumulam.
Há médicos honestos, trabalhadores e competentes assim como há gente incompetente, desonesta e preguiçosa. Como em qualquer outro sector da sociedade.
Arranjar um único "saco" para os colocar todos, seja qual for o rótulo, é redutor.
Não é fácil abordar estes assuntos sem abandonar o preconceito. E é do preconceito que nascem as generalizações.
Há médicos no SNS que levam para casa, líquidos, 1300 euros por mês. Especialistas que terminaram a sua formação 14 anos após terem inicado a faculdade.
Também há quem explore o SNS, fazendo dos hospitais verdadeiras extensões dos seus consultórios particulares.
Na minha opinião, de entre os muitos problemas que afectam o SNS (financiamento, medicamento, urgências, quadros profissionais, carreiras, taxas moderadoras, carta hospitalar, formação, salários, horas extraordinárias, contratos à hora, instalações, educação para a saúde, prevenção primária, etc., etc.)há um que ainda não vi abordado nem tratado por ninguém, governos e oposições incluídas: a promiscuidade entre o público e o privado.
Comece-se por aí com coragem e o resto vem por arrasto.
Agora, senhor José Pereira, se quer entrar a sério no debate, informe-se, documente-se e força nisso.
Generalizações ocas não.