“Je chante toujours parmi
les morts em mai mês ami”
“Aragon”
Eu canto para ti um mês de giestas
um mês de morte e crescimento ó meu amigo
como um cristal partindo-se plangente
no fundo da memória perturbada.
Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
e um coração poisado sobre a tua ausência
eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
em que os mortos amados batem à porta do poema.
Porque tu me disseste: quem me dera em Lisboa
quem me dera em Maio. Depois morreste
com Lisboa tão longe ó meu irmão de Maio
que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.
Que nunca mais dirás palavras sem importância
que tinham a importância de serem ditas por ti
que nunca mais farás as coisas importantes
que já não têm importância porque tu não voltas.
Eu canto para ti Lisboa à tua espera
teu nome escrito com ternura sobre as águas
e o teu retrato em cada rua onde não passas
trazendo no sorriso a flor do mês de Maio.
Porque tu me disseste: quem me dera em Maio
porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e sol. Lisboa viúva (com lágrimas com lágrimas).
Lisboa à tua espera ó meu irmão tão breve.
Manuel Alegre
Três canções com lágrimas e sol para um amigo que morreu na guerra
Ao Manuel Ortigão
Praça da Canção
Cancioneiro – Vértice – Coimbra – 1965
ambiências. políticas. na Guarda
Há 16 horas
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