quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Delphi: Mágoa, hipocrisia e espanto

Durante muito tempo dizia-se: “O que a Escola rejeita a Prisão aproveita”
Quando a Delphi começou a crescer passou a dizer-se: “O que a Escola rejeita a Delphi aceita”

É com mágoa e algum espanto que oiço na RA e leio nos jornais as centenas de comentários ao fecho da DELPHI.
Muita hipocrisia, muita ignorância e muitíssimos dedos apontados por quem nunca mexeu um dedo.
Os mesmos que diziam que a Delphi era uma desgraça para a Guarda porque roubava os trabalhadores às outras empresas, agora dizem exactamente o contrário.
Os mesmos que diziam que aos trabalhadores da Delphi lhe roubavam todos os lugares de estacionamento e propunham um parque longe da fábrica agora torcem a orelha.
Os mesmos que diziam que os trabalhadores da Delphi eram barulhentos e insubordinados e que não podiam dormir de noite, agora queixam-se do silêncio.
Os que se queixavam os trabalhadores da Delphi lhe estragavam os passeios, agora têm os passeios desertos
Estes são apenas alguns exemplos aos quais poderia acrescentar outros e com nomes, poderá ficar para mais tarde.

Infelizmente, numa economia de mercado, não há poder político que resista à voracidade dos empresários exploradores de mão-de-obra barata. E Portugal foi um deles.
Os Portugais, os Polónias, os Checas, e outros não podem competir com países como Marrocos, Tunísia, Índia, China, Roménia que ganham quatro vezes menos que os Portugueses e que admitir ou despedir um trabalhador depende apenas do bom ou mau humor do chefe.
Os Portugueses e os Guardenses não se souberam preparar para realidade, anunciada a partir do ano 2000 e ficámos à sombra da qualidade e da excelência que nem sempre havia e confiados que a qualidade da mão-de-obra que também não havia fizesse o resto. Não fez. Não foi suficiente porque os custos de produção dos países emergentes são substancialmente inferiores aos nossos.
A tudo isto poderemos juntar a política desastrosa da direcção da Delphi, Portuguesa, Europeia e Americana e ficou preparado o caldo para o fecho sucessivo das fábricas na Europa.
Primeiro na Alemanha, depois França, Espanha, agora Portugal e os outros que vão seguir-se.

Com tudo isto os trabalhadores falam mais com o coração do que com a cabeça e não os condeno por isso. Acabaram por ser as vítimas que ficaram indefesas porque ficaram sem dirigentes, sem sindicatos, sem políticos, sem empresários, sem sociedade civil e agora continuam a ser “explorados” pelos “Media” quase obrigados a falar do que não sabem e do que não querem.
Por agora chega. O balanço Delphi ainda será feito, mas por agora a poeira deve assentar, acalmar os ânimos e reflectir um pouco.

2 comentários:

  1. Concordo com o que escreveu...e talvez seja melhor deixar assentar a poeira. Ou talvez não...

    É evidente que a própria crise em que mergulhou a Delphi nos "states" teria que ter implicações na Europa. Mas tb é verdade que a Delphi tem um portfólio de produtos suficientemente extenso para que alguns desses produtos fosse trazido para a Guarda, que esforços foram feitos nesse sentido?

    Porque razão e motivos a fábrica da Guarda se deixou subalternizar pela fábrica de Castelo Branco? Não houve vontade de lutar? houve falta de engenho? ou alguns venderam-se por um cheque generoso? Atenção! Não estou em momento algum a direccionar este comentário para a sua pessoa, que fique claro.

    Pela importância que "a fábrica" teve desde a década de 60 na cidade da Guarda, teria valido a pena assegurar a preservação de parte do espólio e criar uma secção de museologia industrial no Museu da Guarda, onde teriam também lugar os lanificios e lacticineos.

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  2. Por agora apenas acrescento, sem responder, a um ponto:
    "Porque razão e motivos a fábrica da Guarda se deixou subalternizar pela fábrica de Castelo Branco?"
    É preciso conhecer a história da integração da fábrica da Guarda na Cables para em parte responder a esa pergunta e por enquanto não quero responder.
    A Oliveura

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