domingo, 18 de abril de 2010

Nambuangongo, Meu amor

“Há veneno em mim que me envenena,
um rio que não corre, um arrepio” …
“Fernando Assis Pacheco – Cuidar dos Vivos”

Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo

Falavas de Hiroshima, tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroshima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.

Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu. Tu
não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.

Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.

É justo que me fales de Hiroshima.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima
do nosso tempo ai tempo onde a palavra vida rima
com a palavra morte em Nambuangongo.

Manuel Alegre
Praça da Canção
Cancioneiro – Vértice – Coimbra – 1965

1 comentário:

  1. Provavelmente, o poema mais idiota de toda a História. Viveram-se momentos difíceis em Nambuangongo, sim, mas ir buscar Hiroshima é, no mínimo, infeliz.

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