sábado, 22 de outubro de 2011

Caminhar alegremente para a bancarrota

“- Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá … O empréstimo faz-se ou não se faz?”
“E acirrou a curiosidade, dizendo para os lados que aquela questão de empréstimo era grave. Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico! …”
“O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar absolutamente. Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta – cobrar o imposto e fazer o empréstimo. E assim se havia de continuar …”
“Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, deste modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.”
- Num galopezinho muito seguro e muito direito – disse o Cohen, sorrindo. – Ah! Sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem os próprios ministros da Fazenda!… A bancarrota é inevitável; é como quem faz uma soma…”
Eça de Queirós, Os Maias, 1888

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